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Grondin (1987:60-62) – temporalização
O conceito de “maturação” ou “temporalização” contém a ideia de um desdobramento que produz a si mesmo (Geschehen). Há, portanto, um se-produzir original da experiência temporal, que Heidegger destacará com a ajuda de três locuções [GA24
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Die Grundprobleme der Phänomenologie (Summer semester 1927), ed. F.-W. von Herrmann, 1975, 2nd edn. 1989, 3rd edn. 1997, X, 474p.
:377; SZ
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Être et temps
Ser e Tempo
Being and Time
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Sein und Zeit (1927), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 1977, XIV, 586p. Revised 2018. [GA2] / Sein und Zeit (1927), Tübingen, Max Niemeyer, 1967. / Sein und Zeit. Tübingen : Max Niemeyer Verlag, 1972
:328-329]:
— o futuro é um “advir em direção a si mesmo…” (Auf-sich-zukommen) ;
— o ter sido é um “retorno a…” (Zurück zu);
— o presente um “estagiar junto…” (Sich-aufhalten-bei).
“Essas características de em-direção-a-si, retorno-a e junto-de fazem parte da constituição fundamental da temporalidade. Na medida em que a temporalidade é determinada por esse em-direção-a-si, esse retorno-a e esse junto-de, ela está fora de si mesma (ausser sich). O tempo é em si mesmo extático como futuro, tendo sido e presente”. [GA24 GA24
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GA24PT Die Grundprobleme der Phänomenologie (Summer semester 1927), ed. F.-W. von Herrmann, 1975, 2nd edn. 1989, 3rd edn. 1997, X, 474p. :377]
Esses são os elementos essenciais da “temporalização” da temporalidade. A temporalidade explode, por assim dizer, nessas três direções, uma explosão que constitui seu modo essencial de ser e sua unidade. A temporalidade está fora de si mesma (uma concepção que lembra a filosofia da natureza de Hegel
Hegel
Georg Wilhelm Friedrich Hegel
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831)
: o tempo está próximo de si mesmo por estar fora de si mesmo), ou seja, é habitado por uma tensão contínua, dilacerada, irradiada em três raios que emanam ou são apenas um e o mesmo tempo. A intenção de Heidegger é registrar o que poderíamos chamar, em termos bem contemporâneos, de “narratividade” do tempo, ou seja, a narrativa de sua autodesenvolvimento, sua orientação para o futuro, sedimentada pela experiência passada e pela expectativa do presente, conforme é depositada no discurso próprio da existência. A narratividade busca identificar o léxico do tempo vivido, e o tempo é experimentado antes de ser medido, bem como sua tensão essencial, o suspense que caracteriza o ter-sido da existência. Embora as reflexões de Heidegger sobre a automaturação da temporalidade às vezes pareçam bastante especulativas, a ideia de uma tensão interna da temporalidade vivida não deixa de ter fundamento fenomenológico. O Dasein, absorvido pelo presente no modo de preocupação, se vê constantemente transportado para um futuro delimitado pelas possibilidades abertas pela existência passada. Isso é o que levará Heidegger a falar do caráter “ex-estático” do tempo [SZ
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Ser e Tempo
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Sein und Zeit (1927), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 1977, XIV, 586p. Revised 2018. [GA2] / Sein und Zeit (1927), Tübingen, Max Niemeyer, 1967. / Sein und Zeit. Tübingen : Max Niemeyer Verlag, 1972
:329], os três momentos do tempo simbolizando as três “êxtases” (do termo ek-stasis, estar fora de si mesmo).
Heidegger estabelecerá uma conexão entre esse caráter ex-estático do tempo e a existência (ou “existência”) do Dasein. A ek-sistência do Dasein significa que o homem, em virtude de sua abertura ao ser, está afastado do mundo dos entes. Manter-se fora do ente é manter-se no ser, lhe ser “ex-posto”. A tese de Heidegger será a de que é a temporalidade que torna possível essa estrutura ek-sistencial: “A temporalidade ek-stasticamente determinada do Dasein é a condição da constituição do ser pelo Dasein” [GA24
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Die Grundprobleme der Phänomenologie (Summer semester 1927), ed. F.-W. von Herrmann, 1975, 2nd edn. 1989, 3rd edn. 1997, X, 474p.
:378, 428]. Essa tese não é implausível. Poderia ser traduzida da seguinte forma: é porque o Dasein é transportado para o futuro, em seu poder-ser, que ele se dá conta de sua existência e, consequentemente, de sua abertura finita ao ser. Essa consciência temporal orientada para o futuro de um poder-ser pode muito bem ser um dos fatores que distingue o homem dos animais: sabendo que vai morrer, o homem tem consciência de seu ser. Dessa forma, a temporalidade ek-stática do Dasein daria ao homem uma consciência de si mesmo e do ser em geral, antes de todo ser.
Agora estamos em condições de compreender por que a temporalidade incorpora o sentido da preocupação. A preocupação recebe sua direção, ou melhor, sua tensão, da temporalidade. A temporalidade ek-stática garante que o Dasein esteja preocupado com seu poder-ser: sem o transporte ek-stático para o futuro, não há poder-ser. Essa temporalidade era tacitamente parte da caracterização da preocupação na primeira parte de Ser e Tempo
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Sein und Zeit (1927), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 1977, XIV, 586p. Revised 2018. [GA2] / Sein und Zeit (1927), Tübingen, Max Niemeyer, 1967. / Sein und Zeit. Tübingen : Max Niemeyer Verlag, 1972
, em que a preocupação era definida como “ser-adiante-de-si-já-em-(um-mundo-)-como-ser-junto-a-(o ente intramundano)” [SZ
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Sein und Zeit (1927), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 1977, XIV, 586p. Revised 2018. [GA2] / Sein und Zeit (1927), Tübingen, Max Niemeyer, 1967. / Sein und Zeit. Tübingen : Max Niemeyer Verlag, 1972
:192]. Essa fórmula, cuidadosamente elaborada no parágrafo 41 em preparação para a interpretação temporal que receberá no parágrafo 65, desdobra as três êxtases da temporalidade na ordem usual, usando locuções prepositivas: o ’adiante-de-si’ anuncia o futuro, ’já-em’ o ter-sido, e o ’junto-a’ o presente [GA21
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GA XXI
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Lógica. A pergunta pela verdade. / Logik. Die Frage nach der Wahrheit (Wintersemester 1925/1926), ed. Walter Biemel, 1. Auflage 1976. 2., durchgesehene Auflage 1995.
:237; SZ
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Sein und Zeit (1927), ed. Friedrich-Wilhelm von Herrmann, 1977, XIV, 586p. Revised 2018. [GA2] / Sein und Zeit (1927), Tübingen, Max Niemeyer, 1967. / Sein und Zeit. Tübingen : Max Niemeyer Verlag, 1972
:327]. Podemos ver, a partir disso, que a preocupação deriva sua determinação do futuro, um poder-ser repleto de ter-sido e do instante próprio da temporalidade do Dasein.
Ver online : Jean Grondin
GRONDIN, Jean. Le Tournant dans la pensée de Martin Heidegger. Paris: PUF, 1987