Notas de uma palestra pronunciada na “Semana de Kierkegaard”, sob os auspícios do Instituto Brasileiro de Filosofia e da Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de S. Paulo, publicadas na “Revista Brasileira de Filosofia”, vol. VI, fasc. 1, 1956. BARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 181-188
I — O ego é primeiramente uma síntese consciente de infinito e de finito, que se relaciona consigo mesma e cujo fim é tornar-se ela mesma, o que só (…)
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Barbuy
HERALDO BARBUY (1913-1979)
Ex-professor do seminário católico, colaborador assíduo no jornal O Estado de S. Paulo, onde seus artigos semanais eram lidos e comentados com avidez por um público numeroso; membro da extinta e memorável revista Planalto; autor, aos vinte e três anos, de um romance de costumes oitocentistas em São Paulo, Beco da Cachaça, e de outros livros como o candente poema em prosa Zaratustra Morreu, A Vida Espetacular de Mirabeau, Origens da Crise Contemporânea. Tratava-se, portanto, de um intelectual florescente na força da idade, jornalista e escritor que se contentava no entanto na posição de professor do curso secundário, lecionando para adolescentes de quinze e dezesseis anos. Pouco depois ingressaria na Universidade de São Paulo, iniciando carreira universitária que culminaria na conquista da cátedra de Sociologia Econômica, da qual se aposentou nos derradeiros meses de vida. (Adaptado de apresentação de Barbuy feita por Gilberto de Mello Kujawaski)
BARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984
Matérias
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Barbuy: Kierkegaard (2) - Formas do Desespero
8 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro -
Barbuy: Pavlovismo como Teoria da Vida
8 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 213-238
1. O pavlovismo se apresenta como o último remanescente das interpretações mecânicas da vida. Formulado no estilo e no espírito das teorias mecanicistas do século XIX, não ultrapassa os quadros do positivismo e constitui ainda hoje, como teoria, uma re-exposição do naturalismo científico. Como todo positivismo do século XIX, a teoria de Pavlov pretende ser o resultado de um rigoroso método indutivo, (…) -
Barbuy: Romantismo
7 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 87-96.
Se o romantismo tivesse sido o que pretenderam os salões galantes do século XIX e o que diz Victor Hugo no prefácio de “Cromwell”, não teria passado de uma revolução de regras e adjetivos, sem substância e sem uma visão própria da realidade. Longe de um florescimento do divino e do feérico, o romantismo não seria mais do que uma fuga à “realidade” científica, mascarada pela admissão do grotesco na (…) -
Barbuy: senso comum (2) - personalidade
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 137-140.
2. É fora de dúvida que o senso comum, sob a forma da consciência sensível ou moral, unida à inteligência produz o sentimento da personalidade. A crise do senso comum, isto é, o isolamento entre as elaborações da inteligência e o mundo da realidade representa uma dissociação da personalidade: nem por menos a loucura é uma desintegração das faculdades internas de que resulta uma inadequação do (…) -
Barbuy: senso comum (3) - metafísica
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 140-145.
3. Com a teoria do universal matemático, este novo método que deveria eliminar do campo da verdade tudo quanto é realidade, instaura-se uma separação definitiva entre a vida e a filosofia, pelo desaparecimento da Metafísica. Antes de Descartes [140], a palavra Metafísica não significava um universo de essências etéreas e relações abstratas; a metafísica significava justamente o que ela é, ou seja, (…) -
Barbuy: Do ser e do sentido da vida
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 23-29. (1a ed., São Paulo: Liv. Martins Editora, 1950)
Além de todas as contradições em que incorre a negação verbal do ser, contradições de ordem lógica, gnoseológica, psicológica e ontológica, — o racionalismo, ou seja, a visão “científico-naturalista” do mundo tem o peculiar característico de eliminar o valor e o sentido da vida.
Claro está que a vida só pode ter um valor e um sentido, dada a (…) -
Barbuy: senso comum (4) - realidade
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 145-146.
4. A negação do existencial nos idealismos derivados de Kant — em particular no de Hegel — criou a necessidade artificial de uma reconstrução do mundo pelo próprio homem, agora abandonado a si mesmo, mas tomado da consciência idealista de que a realidade decorre dele mesmo e será tal qual sua razão a construir e sua vontade a plasmar: esta é [145] uma dimensão do criticismo kantiano, que atribui ao (…) -
Barbuy: Progresso (7) - progressismo século XIX
7 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 114-115.
7. Mas, o século XIX contemplou a história como progresso plasmador da sua própria grandeza: não fez história, mas autobiografia. O progresso da ciência físico-química e as descobertas técnicas estavam patentes aos olhos de todos, anunciando os poderosos instrumentos de ação e destruição dos tempos hodiernos. E já porque todo esse progresso nasceu do triunfo da civilização urbana sobre a (…) -
Barbuy: Physis e Natureza
7 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 87-96.
Sabe-se que as origens da filosofia se encontram na meditação sobre o mistério e a essência da Natureza. Os pré-socráticos têm sido habitualmente mal compreendidos e por vezes considerados materialistas ou cientistas embrionários que apenas anunciaram os grandes progressos da ciência que veio depois deles. Basta contudo ler os fragmentos dos pré-socráticos para que o sentido do seu pensamento (…) -
Barbuy: ser unívoco e ser análogo II
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 53-71. (1a ed., São Paulo: Liv. Martins Editora, 1950)
Todo panteísmo encerra, de fato, a mesma contradição interna do sistema platônico e da qual Platão, em diversas passagens se deu perfeitamente conta, a saber: De que modo pode a multiplicidade participar da unidade da Ideia? De que modo pode uma Ideia determinada, sem deixar de ser ela mesma, participar da unidade do verdadeiro ser, vere ens? — Pois, (…) -
Barbuy: senso comum (1) - senso interno
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 133-137.
1. Poder-se-ia indiferentemente falar em crise do senso comum ou crise da intuição originária. O que se desejaria entender pela expressão “senso comum” não é outra cousa senão a intuição profunda da realidade concreta, uma faculdade que não é comum no sentido de que pertença necessariamente a todos e sim no sentido de ser distinta e comum a todas as faculdades que nos ligam à realidade, (…) -
Barbuy: Filosofia não é Ciência
7 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 75-77.
Variam as acepções da Filosofia e varia também o seu nome. Mas, como quer que a Filosofia seja tomada, ela não se confunde com nenhuma outra ciência, com nenhum outro campo de preocupações. O âmbito em que se move, se distingue, pela sua natureza, de todos os outros. A Philosophia pode ser tomada num sentido estrito, designando uma ciência do Ser ou uma ciência das essências como a definiu Platão. Ou (…) -
Barbuy: sophia e episteme
7 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 79-83.
Sophia, sabedoria, se distingue de episteme, ciência. E distingue-se de doxa, opinião. De onde, o sentido mais radical da Filosofia, é o da Sabedoria, que se distingue do saber. A filosofia não é o conjunto das cousas que se sabem, não é uma synthèse scientifique (como se diria no século XIX), mas uma sabedoria da realidade profunda. O saber se distingue da sabedoria, como a ciência se distingue da (…) -
Barbuy: Valor e Transcendência
8 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 239-247
1. Toda teoria psicologista e relativista do valor, leva à negação deste último. O valor é um fenômeno da experiência vital, que não comporta explicações fora da Transcendência e da objetividade. A fenomenologia permite estabelecer que a nossa vivência íntima do valor é uma vivência da sua objetividade. Metafisicamente o valor é objetivo: a distinção entre valor e ser, tão vivamente estabelecida na (…) -
Barbuy: Progresso (1) - mito do século XVIII a nossos dias
7 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 101-103.
“Qu’est ce donc que nous crie cette avidité et cette impuissance, sinon qu’il y a eu autrefois dans l’homme un véritable bonheur, dont il ne lui reste maintenant que la marque et la trace toute vide, et qu’il essaye inutilement de remplir de tout ce qui l’environne, recherchant de choses absentes le secours qu’il n’obtient pas des présentes, mais qui en sont toutes incapables, parce que le gouffre (…) -
Barbuy: Filosofia aristotélica
7 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 78-79.
Segundo Aristóteles a Filosofia é a ciência do Ser enquanto ser, a ciência da substância, a ciência do universal, a ciência das ciências. A filosofia, segundo Aristóteles, não se confunde com nenhuma das ciências particulares, as quais recortam uma certa parte do ser e só se preocupam com os atributos dessa parte (Met. L. IV. G,E). A filosofia é a ciência da essência ou do que a cousa realmente é; (…) -
Barbuy: Progresso (9) - Paraíso Perdido
7 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 116.
9. Em quase todos os povos antigos a legendária reminiscência de um Paraíso Perdido se associou a uma inconsciente noção regressiva da história. Esta noção é implícita ao culto dos antepassados, à crença de que o fundador da cidade era um herói semi-divino, do qual se descendia, declinando. As virtudes do passado assomavam como valores perdidos pelo presente e a tradição, em vez da revolução, adquiria (…) -
Barbuy: Progresso (10) - progresso indefinido
7 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 116.
10. Mas a ideia do progresso ilimitado, não é apenas uma adulteração do testemunho bíblico do paraíso perdido: e também uma grotesca materialização da doutrina católica da salvação. O Cristianismo instaurou uma noção do progresso toda espiritual, como de uma purificação e ascensão para o alto: tal é também a fisionomia das torres góticas que se afilam na proporção em que ascendem. Mas a ideia cristã do (…) -
Barbuy: Progresso (6) - progressismo e fatos históricos
7 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 114-115.
6. Se para o que se refere à origem e ao progresso do mundo cósmico, o monismo não é senão uma forma do panteísmo, isto é, uma teoria de que não se pode destacar uma causa substancial causante, a situação absolutamente não é outra, quando a ideia de progresso se exerce no exclusivo domínio da história, que é o seu terreno habitual. Não se distinguindo essencialmente entre matéria e forma, entre (…) -
Barbuy: senso comum (11) - arte
7 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 161-168.
11. A perda da significação do ritmo se traduz ao olhar de qualquer observador por uma série de fenômenos, cuja evidência é inegável; as grandes cidades, onde desfilamos como expressões transitórias de massas anônimas — hóspedes passageiros de moradias coletivas — onde a confusão, o caos, a rotina, a resignação, a domesticação nos reduzem a apêndices de máquinas, a peças de engrenagens, matam em (…)