BARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 157-159.
9. Por que, pois, dirá Nietzsche que não há mais horizontes ao redor? Talvez porque a terra não é mais o lugar em que se habita: habitar um lugar não é apenas estar nele; o habitar não é um ato físico, mas metafísico; o habitar um lugar supõe que haja possibilidade de habitar e supõe que exista o lugar; isto envolve a proximidade e a distância, a duração e o sentido das cousas.
Habitar é ter uma (…)
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Geheimnis / mistério / mystère / mystery
Matérias
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Barbuy: senso comum (9) - habitar
6 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro -
Barbuy: Progresso (3) - razão e progressismo
7 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 103-107.
3. O mito do progresso coletivo e horizontal que subverteu a noção religiosa do aperfeiçoamento definido e vertical, pode ter a sua origem lá onde se encontram as raízes da situação contemporânea, ou seja no racionalismo e no protestantismo, cuja tradução econômica é o capitalismo, com o último dos seus derivados que é o socialismo. Por outro lado, a revolução copernicana que desacreditou a física (…) -
Barbuy: Progresso (8) - Paraíso no futuro
7 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 114-115.
8. O mito do progresso indefinido, negando o pecado original, a ordem natural e as essências ônticas, não é outra cousa senão o produto de uma inversão pela qual se colocou, no futuro da sociedade terrestre, o Paraíso Perdido, que todas as tradições colocavam no passado. Tendo rejeitado a crença bíblica no Paraíso que foi perdido, os sociólogos, historiadores, filósofos e reformadores (…) -
Barbuy: Filosofia platônica
7 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 77-78.
Platão havia separado a Dialética de todos os outros conhecimentos, tomando a Filosofia como iluminação e inspiração; o filósofo, segundo Platão, é aquele cujas disposições inatas levam facilmente para a Ideia de cada ser; e a filosofia é o nome de um estado peculiar de entusiasmo e inspiração que faz intuir a essência transcendental das aparências ilusórias. Essas aparências são os objetos das (…) -
Barbuy: Progresso (10) - progresso indefinido
7 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro10. Mas a ideia do progresso ilimitado, não é apenas uma adulteração do testemunho bíblico do paraíso perdido: e também uma grotesca materialização da doutrina católica da salvação. O Cristianismo instaurou uma noção do progresso toda espiritual, como de uma purificação e ascensão para o alto: tal é também a fisionomia das torres góticas que se afilam na proporção em que ascendem. Mas a ideia cristã do progresso é a de um progresso individual, pelo aperfeiçoamento interior, na ascensão (…)
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Barbuy: Cristianismo e Angústia
8 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 249-257
Tornou-se corrente na Filosofia da Cultura estabelecer distinções radicais entre o Tempo histórico e o Tempo mítico, entre o Tempo cósmico e o Tempo humano . Em outra linha, a filosofia contemporânea, principalmente a partir de Kierkegaard, explicita o tempo do Cristianismo como um tempo essencialmente angustioso, porque um tempo em que nos salvamos e nos perdemos. A existência posta como drama é a (…) -
Barbuy: Kierkegaard (1) - Desespero
8 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroA teoria do desespero em Kierkegaard demonstra que o drama do espírito humano não tem apenas raízes psicológicas, mas radica também no próprio ser do homem; o desespero é ôntico, é uma categoria do espírito, como o pecado, e não pode ser examinado só como sintoma de neuroses colhidas na infância individual. O desespero que resulta, segundo Kierkegaard, do querer ser si mesmo ou do não querer ser si mesmo, vem de uma discordância interna da síntese que o homem é: síntese de finito e de (…)
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Barbuy: Sartre e Heidegger
8 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 199-211
Se o existencialismo contemporâneo dá como estrutura do existir o estar-jogado-no-mundo, isto significa para o homem atual o ter sido arremessado ao vazio, onde só há para ele, segundo Heidegger, a impossibilidade radical de conhecer o onde e o porque. — No vazio, não pode haver um onde e um para que.
O indivíduo humano está isolado, porque já não há mais o sentido da realidade, desde que as (…) -
Barbuy – O que é a filosofia?
18 de março, por Cardoso de Castro(Revista Brasileira de Filosofia, vol. IX, Fase. 1, 1959.)
Variam as acepções da Filosofia e varia também o seu nome. Mas, como quer que a Filosofia seja tomada, ela não se confunde com nenhuma outra ciência, com nenhum outro campo de preocupações. O âmbito em que se move, se distingue, pela sua natureza, de todos os outros. A Philosophia pode ser tomada num sentido estrito, designando uma ciência do Ser ou uma ciência das essências como a definiu Platão. Ou ainda, uma ciência da essência (…) -
Barbuy: Três concepções do ser
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 44-46. (1a ed., São Paulo: Liv. Martins Editora, 1950)
Ora o ser pode afirmar-se de dois modos e negar-se de um modo. O ser pode afirmar-se univocamente. O ser pode afirmar-se analogicamente. E o ser pode negar-se equivocamente. O unívoco, o equívoco, o análogo, tais são os três aspectos debaixo de um ou outro dos quais podemos considerar o que é, do ponto de vista lógico.
Se dissermos que o ser é (…) -
Barbuy: Kierkegaard (1) - Desespero
8 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroNotas de uma palestra pronunciada na “Semana de Kierkegaard”, sob os auspícios do Instituto Brasileiro de Filosofia e da Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de S. Paulo, publicadas na “Revista Brasileira de Filosofia”, vol. VI, fasc. 1, 1956. BARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 181-188
A teoria do desespero em Kierkegaard demonstra que o drama do espírito humano não tem apenas raízes psicológicas, mas radica também no próprio ser (…) -
Barbuy: Do ser e do sentido da vida
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroAlém de todas as contradições em que incorre a negação verbal do ser, contradições de ordem lógica, gnoseológica, psicológica e ontológica, — o racionalismo, ou seja, a visão “científico-naturalista” do mundo tem o peculiar característico de eliminar o valor e o sentido da vida.
Claro está que a vida só pode ter um valor e um sentido, dada a objetividade do real e a transcendentalidade do ser, dentro duma ontologia realista, a qual nos faça do ponto de vista intelectual, volitivo e (…) -
Barbuy: senso comum (7) - Nietzsche
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 154-155.
7. Nietzsche, no fim do século XIX, levantou o desesperado clamor de que a vida não tinha mais sentido porque Deus tinha morrido. A negação da realidade do mundo tinha conduzido à negação da realidade de Deus: E que sentido poderia ter o mundo sem Deus? Tudo quanto sempre se concebeu como ordem vital, ou mundo, ou harmonia, ou kosmos supunha a realidade concreta de Deus; os seres reais só podiam (…) -
Barbuy: senso comum (2) - personalidade
6 de outubro de 2021, por Cardoso de Castro2. É fora de dúvida que o senso comum, sob a forma da consciência sensível ou moral, unida à inteligência produz o sentimento da personalidade. A crise do senso comum, isto é, o isolamento entre as elaborações da inteligência e o mundo da realidade representa uma dissociação da personalidade: nem por menos a loucura é uma desintegração das faculdades internas de que resulta uma inadequação do indivíduo com a realidade; a loucura pode não destruir a razão, mas destrói sempre o senso comum que (…)
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Barbuy: senso comum (8) - cosmologia
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 156-157.
8. A luta entre o heliocentrismo e o geocentrismo não se desenrolou no plano da física, mas no da Metafísica. Não foi por um progresso da ciência que se viu que a terra girava em torno do sol; foi pela morte da Metafísica que a terra deixou de ser a habitação do espírito humano convertendo-se numa simples massa que gira em torno do sol. Copérnico mesmo declara ter encontrado o fundo de sua opinião (…) -
Barbuy: ser unívoco e ser análogo I
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 46-53. (1a ed., São Paulo: Liv. Martins Editora, 1950)
Intuir na realidade o que a realidade é, qual é a sua estrutura, o seu — ontos ón — é o mesmo que buscar o ser da realidade. Mas este ser, como se apresenta? Heráclito, afirmando a perpétua mudança, o fluir incessante de todas as cousas do mundo incerto e transitório, tinha negado os princípios primeiros da Inteligência, afirmando do ser ao mesmo tempo (…) -
Barbuy: Três concepções do ser
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroOra o ser pode afirmar-se de dois modos e negar-se de um modo. O ser pode afirmar-se univocamente. O ser pode afirmar-se analogicamente. E o ser pode negar-se equivocamente. O unívoco, o equívoco, o análogo, tais são os três aspectos debaixo de um ou outro dos quais podemos considerar o que é, do ponto de vista lógico.
Se dissermos que o ser é unívoco, colocar-nos-emos no ponto de vista lógico, sem atentar para a inteligibilidade análoga do real e afirmaremos que a palavra ser designa (…) -
Barbuy: Progresso (4) - progressismo, sociologismo, materialismo
7 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 107-108.
4. O progressismo dissolveu inteiramente a personalidade humana no todo social; pois, para que o progresso horizontal indefinido fosse possível era preciso que a sociedade e não o indivíduo fosse uma entidade real; que a sociedade e não o indivíduo tivesse um destino. E no mesmo passo em que o sociologismo explicava inteiramente o individual pelo social, o materialismo completou a obra explicando o (…) -
Barbuy: Progresso (2) - racionalismo progressista
7 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 103.
2. Progressista foi o modo de pensar dos idealistas e dos materialistas, confinados ao racionalismo, ou seja, ao culto da análise matemática e à sua generalização, com o completo desprezo da Inteligência, no seu mais amplo sentido. O intelectualismo não se confunde com o racionalismo, tanto quanto a generalização dos métodos matemáticos não se confunde com o uso das plenas faculdades intelectuais (…) -
Barbuy: o tema do ser
6 de outubro de 2021, por Cardoso de CastroBARBUY, Heraldo. O Problema do ser e outros ensaios. São Paulo: Convívio, 1984, p. 3-5 (1a ed., São Paulo: Liv. Martins Editora, 1950)
O autor do presente trabalho diante do dilema de escolher e desenvolver com relativa perfeição um tema secundário — ou escolher e desenvolver de modo imperfeito e incompleto o tema central de todo pensamento filosófico, — o tema do ser — não hesitou em optar por esta última solução, certo de que a intuição e o problema do ser constituem o núcleo vital de (…)