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Solomon (2012) – Nietzsche, face a um livro

Data: 2025-11-03 05:42

What Nietzsche Really Said

“Diante de um livro acadêmico”, Nietzsche descreve sua própria reação a uma experiência de leitura específica: “agora mesmo, ao fechar um livro acadêmico muito decente — com gratidão, muita gratidão, mas também com uma sensação de alívio”. O alívio foi uma reação ao deixar para trás o “ar abafado, os tetos baixos, a estreiteza” do livro.

  • A prosa de Nietzsche não pode ser destilada sem uma perda significativa, exigindo que o leitor confronte diretamente os seus livros, os quais, longe de inspirar alívio pela sua conclusão, são cativantes mas intencionalmente difíceis, pois ele não desejava ser compreendido por “qualquer um”.
  • Nietzsche aspirava a um encontro de mentes com leitores ativos que, longe de meramente seguir o seu raciocínio, fossem inspirados para um pensamento original, tornando-se seus companheiros de pensamento.
  • A sua estratégia escritural, que inclui o uso de aforismos, piadas e observações surpreendentes, visa desafiar os leitores a reconsiderarem as suas crenças e valores, convidando-os a uma relação íntima e interativa, comparável à experiência de ouvir música ou dançar.
  • A dificuldade da sua escrita não resulta de obscuridade, mas da condensação de significados profundos em formulações concisas e elegantes, refletindo a sua luta pela clareza, uma vez que se sabia profundo.
  • A sua erudição em teologia, filologia e humanidades enriquece a sua prosa com alusões complexas a figuras como Shakespeare, Goethe, Platão e Kant, exigindo um leitor culto para apreciar plenamente a sua ironia e jogos de palavras.
  • Para ler Nietzsche de forma produtiva, é essencial abandonar preconceitos e as expectativas convencionais de um ensaio filosófico, estando preparado para a ausência de sequências argumentativas lineares, resumos claros e a aparente contradição entre passagens.
  • A aparente contradição é, frequentemente, uma expressão deliberada do seu perspectivismo, a doutrina de que o conhecimento é sempre relativo a um ponto de vista, rejeitando a noção de verdades absolutas e imutáveis.
  • A justaposição de aforismos e temas não é aleatória, mas uma estratégia retórica cuidadosamente orquestrada para manipular a consciência do leitor, levando-o a descobrir conclusões por si próprio, tornando-as assim mais impactantes.
  • O uso da paródia, como em *Assim Falou Zaratustra*, que funde referências ao Novo Testamento e ao Mito da Caverna de Platão, não é apenas crítico, mas também um gesto de reconhecimento e admiração pela influência dos seus predecessores.
  • As suas metáforas, que recorrem a imagens de altura, saúde, doença e animais, são ferramentas sugestivas concebidas para desencadear a imaginação interpretativa do leitor, sendo por vezes intensificadas por trocadilhos inteligentes.
  • O elogio e a crítica em Nietzsche devem ser lidos com atenção ao contexto e à ironia, pois o seu elogio pode ser sarcástico e a sua admiração por figuras históricas chocantes serve para praticar uma avaliação “para além do bem e do mal”.
  • A hipérbole é um dispositivo retórico frequente, usado para chamar a atenção para problemas negligenciados, e os seus ataques *ad hominem* são defendidos como um teste válido para uma ideia, interrogando “que tipo de pessoa acreditaria nisto?”.
  • A sua obra é um projeto contínuo de reavaliação de todos os valores, criticando a tradição filosófica ocidental, a visão de mundo científica moderna e, centralmente, a moralidade cristã, que ele via como uma “moral de escravo” nascida do ressentimento.
  • Conceitos fundamentais como a vontade de poder (o impulso fundamental para a vida e o aprimoramento), o eterno retorno (o teste supremo para a afirmação da vida) e o Übermensch (o ideal de superação do homem moderno) são introduzidos e desenvolvidos ao longo da sua obra.
  • A sua produção pode ser dividida em fases: uma inicial, romântica, com *O Nascimento da Tragédia*; uma fase “iluminista” de análise psicológica e moral em obras aforísticas como *Aurora* e *A Gaia Ciência*; e uma fase final de maturidade, com obras de síntese e polêmica incisiva como *Para a Genealogia da Moral* e *O Anticristo*.
  • A sua relação com Richard Wagner, inicialmente de admiração e depois de crítica feroz, simboliza a sua própria evolução intelectual e o seu afastamento de ídolos e ideais anteriores.
  • O seu estilo e os seus temas evoluem, mas o núcleo da sua missão permanece: diagnosticar o niilismo moderno — a sensação de que a vida não tem propósito após “a morte de Deus” — e propor caminhos para a sua superação através de uma afirmação trágica e jubilosa da existência.

PS: SOLOMON, Robert C. What Nietzsche Really Said. Westminster: Knopf Doubleday Publishing Group, 2012.

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