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Schürmann (1982:116-121) – O Conceito Causal de Arche (resumo)

Data: 2025-10-24 22:21

* A problematização do conceito de αρχή (arqué) como provavelmente não sendo um conceito “arcaico”, mas uma noção posteriormente projetada nos primórdios da filosofia grega por Aristóteles e, mais tarde, pelos “doxógrafos”, levantando a questão filológica sobre se Teofrasto apresentou Anaximandro como o primeiro pensador da *arqué* ou como o primeiro pensador do άπειρον (ápeiron - o ilimitado, indeterminado ou infinito).

  • A leitura aristotélica de Anaximandro como um filósofo da natureza (physiólogo), cuja *arqué* seria o *ápeiron*, um substrato permanente e irredutível do qual as coisas emergem e pelo qual são governadas, encapsulando o duplo sentido aristotélico de *arqué* como início (incipit) e domínio (regimen).
  • A análise dos significados-guia de *arqué* nos três domínios operativos em Aristóteles: no ser, onde é a substância (ousia) que inicia e comanda; no tornar-se (devir), onde são as causas (aitiai); e no conhecimento, onde são as premissas das quais a cognição depende, sendo que a análise do ser e do conhecimento deriva da observação da mudança na substância sensível.

* A tese de que a metafísica e a lógica aristotélicas derivam do espanto perante o devir do qual o homem é autor e mestre, sendo o significado-guia no conceito de origem em Aristóteles resultante não da especulação sobre o ser ou da lógica do conhecimento, mas da análise do devir que afeta as coisas materiais.

  • A consequência de que os pré-platônicos, como Anaximandro, aparecem na *Física* aristotélica essencialmente como físicos (fisiólogos), com suas formulações sendo interpretadas como tentativas precursoras da noção de causa material que o hilemorfismo viria a identificar apropriadamente.

* A constituição da metafísica das causas como condição para a aliança entre as noções de início e domínio no conceito de *arqué*, onde uma verdadeira causa é aquela que não só inicia sua ação, mas “nunca cessa de iniciá-la”, ou seja, que também comanda.

  • A função da *arqué* como o elo interno entre a tripla e a quádrupla divisão das *aitiai*, e a razão pela qual o fundamento dessas diferentes divisões não aparece.

* A delimitação do campo de fenômenos ao qual a categoria de causalidade é apropriada – o domínio dos entes subsistentes, dos objetos –, contrastando com outros campos (ferramentas, pessoas, obras de arte) que se deixam interpretar, mas não “explicar” por causas, sendo a explicação causal um modo de compreensão hegemônico, mas não exclusivo. * O projeto de desconstrução fenomenológica dos conceitos recebidos de origem, que requer desengajar a *arqué* das representações causais e compreender o início e o domínio de outro modo que não como traços essenciais das causas.

  • O objetivo de revelar que pensadores pré-socráticos como Anaximandro, Heráclito e Parmenides não pensaram a origem como *arqué* no sentido causal, obtendo assim um primeiro indício de um pensamento não-metafísico da origem.

* A gênese do conceito causal de origem na experiência muito precisa do movimento e da mudança iniciados pelo homem, ou seja, na experiência da fabricação (mão-de-obra, *handiwork*).

  • A divisão aristotélica da totalidade das coisas entre as movidas pelas mãos humanas e as movidas por si mesmas, sendo o *tertium comparationis* o movimento como tal, e sendo apenas porque o homem primeiro se apreende como arquiteto (iniciador da fabricação) que a natureza pode, por sua vez, aparecer-lhe como movida por mecanismos de causa e efeito.

* A identificação de um fator residual no conceito aristotélico de φύσις (physis) que não é esgotado pela oposição entre movimento 'físico' e 'técnico' sob o gênero comum 'coisas movidas'.

  • A ocasional recuperação, por parte de Aristóteles – enquanto falante de grego –, do sentido verbal da *physis* como vir à presença (*phuein*), onde o ponto de vista produtivo de 'tornar presente' recua perante o emergir na presença.
  • A tese de que a origem como início e domínio é derivada desse entendimento verbal mais primordial, que está preservado mesmo no latim (*oriri - origem; nasci - natureza*), e de que *arqué* não é um conceito-guia para o ser, mas um termo derivado da determinação grega originária do ser.

PS: SCHÜRMANN, Reiner. Le principe d’anarchie. Paris: Seuil, 1982

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