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Didier Franck (1981:41-49) – Carne e corpo na percepção

Data: 2025-10-25 17:04

Chair et Corps

Sur la phénoménologie de Husserl

* A imposição do caráter de uma descrição duplamente orientada e correlativa à análise da consciência pela evidência da correlação intencional.

  • A dupla orientação da análise: para o objeto intencional no *quomodo* de seus modos de aparecer (o noema) e para os atos do *ego* (noeses) que constituem e dão sentido aos noemas.
  • A universalidade da análise intencional como análise do *ego* transcendental enquanto inclui e constitui toda a objetividade possível.
    • A citação que afirma: “Portanto, na realização consequente da redução fenomenológica, resta-nos, noeticamente, a pura vida de consciência aberta sem fim e, do lado de seu correlato noemático, o mundo visado puramente como tal”.

* A centralidade da análise da percepção sensível como exemplo fundamental e a necessidade histórica e essencial de sua reavaliação.

  • A profunda necessidade de superar o psicologismo transcendental através de uma nova análise da percepção que seja fiel ao dado originário.
  • A reflexão de Husserl sobre a escolha da percepção como ponto de partida: “Mas necessidades de essências não se fizeram sentir nesta escolha?”.

* A descrição intencional exemplar da percepção de um cubo, dissolvendo a unidade do objeto em uma multiplicidade de esboços.

  • A descrição do cubo como unidade objetiva dada em uma “multiplicidade cambiante e multiforme de maneiras de aparecer”.
  • A síntese de identificação que unifica o fluxo das aparências em um objeto idêntico.
  • O papel do “aqui absoluto” da própria carne como referência espacial constante, “sempre co-consciente embora não percebido”.
  • A variação das maneiras de aparecer, como perspectivas visuais e táteis, em função da orientação da atenção.

* A conceituação revolucionária do “esboço” (*Abschattung*) e a rejeição das teorias da percepção como signo ou imagem.

  • A definição do esboço como o que dá a coisa em sua ipseidade incarnada, e não como um signo de um em-si inteligível.
  • A unificação fenomenológica do objeto através da concordância dos esboços, fundada numa síntese de identificação.
  • A consciência imanente do tempo como forma fundamental dessa síntese.
  • A concepção da coisa transcendente como uma Ideia no sentido kantiano, cuja doação adequada é um limite ideal.

* A problematização do papel da carne (*Leib*) como “aqui absoluto” e órgão de toda a percepção.

  • A afirmação fundamental de que as coisas são dadas “em carne”, designando tanto um modo de doação quanto o destinatário dessa doação.
  • O paradoxo da percepção da própria carne: sendo a origem não-espacial do espaço, como pode ser percebida?
  • A questão de saber se a carne possui o modo de ser puramente temporal dos vividos, considerando que ela é “o meio de toda percepção, o órgão da percepção, necessariamente presente em toda percepção”.
  • A dificuldade de constituir a própria carne como um corpo entre outros no quadro da egologia pura, o que exige o abandono do solipsismo.

* A investigação sobre a unificação das esboços pela unidade da carne e a relação entre cinestesias e aparições.

  • A questão de saber se a unidade das esboços depende primariamente da unidade da carne antes da síntese temporal.
  • A análise, presente em *A Crise…*, que reconhece o papel indispensável da carne e de seus órgãos perceptivos.
  • A descrição da interação essencial entre as cinestesias (movimentos subjetivos) e as aparições do objeto: “as apresentações de aspectos […] e as cinestesias não seguem cursos paralelos, mas antes atuam todas em conjunto”.
  • A dupla natureza da carne como princípio unificador (enquanto carne viva) e como objeto espacial desagregador (enquanto corpo).

* A descoberta da vida de consciência como essencialmente sintética e a fundamentação última na consciência imanente do tempo.

  • A condensação do adquirido: o objeto intencional é uma unidade idêntica de modos de consciência variáveis, e a vida da consciência é síntese.
  • A fenomenologia da percepção implicando uma fenomenologia da temporalidade que unifica todos os vividos em um fluxo único.
  • A síntese temporal como uma consciência global que serve de fundo para o relevo de cada vivido individual.

* As “dificuldades extraordinárias” levantadas pela autorreferência temporal da consciência e a regressão infinita.

  • A distinção entre o vivido intra-temporal e seus modos temporais de aparecimento, que são eles mesmos vividos temporais.
  • O paradoxo de que os vividos que constituem o tempo imanente aparecem eles mesmos nesse tempo.
  • A caracterização deste fato como “um lado do maravilhoso ser-para-si-mesmo do *ego*”.

* A estrutura de horizonte e a dinâmica entre atualidade e potencialidade na intencionalidade.

  • A percepção atual implicando um horizonte de co-visadas inintuitivas e percepções potenciais futuras.
  • A dependência dessas potencialidades em relação à livre mobilidade da carne, cuja constituição levanta dificuldades análogas à da temporalidade.
  • A referência à “arque-impressão” e ao “presente incarnado” nas análises da temporalidade e da *hylé*, indicando a pré-doação da carne.

* A caracterização diferencial da análise intencional como exploração de horizontes e potencialidades, e sua circularidade metodológica.

  • A análise intencional não sendo uma análise real, mas o desdobramento das riquezas horizontais e potencialidades infinitas de cada atualidade.
  • O papel da “visão suplementar” (*Mehrmeinung*) como ponto de partida para interrogar as multiplicidades noéticas sintetizadas.
  • A circularidade onde a análise intencional tanto pressupõe e quanto revela a intencionalidade que está em seu princípio.

* As duas condições para aceitar esta circularidade: o objeto como guia transcendental e a unidade do mundo como regra universal.

  • A primeira condição: o privilégio metodológico do constituído, onde o objeto serve de guia transcendental para a exibição das estruturas noéticas.
  • A segunda condição: a pressuposição da unidade universal do mundo como correlato da subjetividade total e infinita.
  • A questão crítica sobre se a fenomenologia repousa sobre um “crédito prévio” à unidade do mundo e se este crédito é de ordem factual.
  • A conclusão de que Husserl apenas desdobra o sentido puro da ideia de ciência autêntica e da correlação essencial entre razão e realidade denominada verdade.

PS: FRANCK, Didier. Chair et corps. Sur la phénoménologie de Husserl. Paris: Minuit, 1981.

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