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Caeiro (2015:10-11) – ação (agir) e produção (fazer)

Data: 2020-01-05 11:42

ÉTICA A NICÔMACO

Apresentação

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tr. António Caeiro. Lisboa: Quetzal, 2015, p. 10-11.

As acções têm, assim, o seu princípio de ser no Humano enquanto tal. Sem o elemento Humano não há acção. É o próprio Humano que é causa eficiente enquanto motivação da acção. E é também o Humano a causa final da acção, o terminus ad quem de todo e qualquer encaminhamento prático. O modelo aristotélico do pensamento da acção é o da produção. Sem dúvida que agir (agere) é diferente de produzir (facere). Pode haver uma perícia da produção, mas já não uma perícia da acção.

O sentido da palavra «perícia» [techne] é equívoco. «Perícia» pode ser um ofício ou uma profissão. Mas tem também o sentido de produção artística, arte. Em ambos os casos a língua grega faz pensar, de facto, numa fabricação, numa produção. O operador fundamental da perícia é o domínio de uma competência (artístico-técnica), a qual pode ser adquirida por aprendizagem. Para perceber de uma determinada perícia é necessário exercê-la, pô-la em prática, por assim dizer. Saber é fazer. Ora é precisamente aqui que reside a diferença entre o agir e o produzir. O agir não admite perícia. Assim, se considerarmos, a respeito da produção, distintamente cada uma das partes envolvidas no seu processo, isto é, o produzir, o produtor (o perito ou o técnico) e o produto enquanto resultado da sua aplicação, percebemos a natureza da relação entre cada uma delas. Os entes produzidos por perícia (άπό τέχνης) existem, de facto, apenas sob a dependência e acção directa do Humano. Ou seja, sem perícia ou perito não existem apetrechos nem obras de arte. Contudo, os produtos de uma perícia são-lhe extrínsecos quando acabados.

Na acção não é assim. Quer dizer, não há aqui distinção entre acto, agente ou o resultado da acção. Agir enquanto tal alberga a priori tanto o seu princípio como o seu próprio fim. Por outro lado, agir e produzir têm em comum a natureza do horizonte em que acontecem. Trata-se de um horizonte que admite alteração. Depende do Humano enquanto o seu princípio e fundamento para existir. Mas é o agir, mais do que o produzir, que exprime o Humano enquanto Humano. O Humano enquanto prático é princípio da acção. E ele também que é tido em vista como o seu fim. E no agir que o Humano se pode cumprir na sua possibilidade extrema, como ser ético. A acção é a produção humana enquanto tal em sentido estrito.

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