Data: 2025-03-13 06:32
(Rorty1999)
Heidegger preocupa-se em negar que exista um tópico de interrogação a-histórica chamado «raciocínio humano», ou «a estrutura da racionalidade» ou «a natureza da linguagem», que tenha sido objecto de interrogação filosófica em todas as épocas. Mesmo nos anos 1920, antes da «Kehre», Heidegger contradizia a crítica de Husserl ao historicismo 1) dizendo coisas como: A construção em filosofia é necessariamente destruição, isto é, uma des-construção (Abbau) dos conceitos tradicionais levados a cabo num recurso histórico à tradição. […] Porque a destruição pertence à construção, o conhecimento filosófico é essencialmente ao mesmo tempo, de certa maneira, conhecimento histórico 2). Nos anos 1940, Heidegger concluiría que em Sein und Zeit não tinha ainda sido historicista o suficiente para conseguir esta destruição. Ao referir-se a esse livro inicial Heidegger diz: «Esta destruição, tal como a “fenomenologia” e todas as questões hermenêutico-transcendentais, ainda não foi pensada em termos da história do Ser.»3) Heidegger identificava o «raciocínio humano», a «racionalidade» e o «senso comum sólido», tal como estes termos são utilizados pelos filósofos, com o inconsciente, uneigentlich, inquestionável uso de uma linguagem herdada. A filosofia não é simplesmente a utilização dessa tradição — não é simplesmente a distribuição de valores de verdade sobre uma variedade de frases que estão já «presentes» na linguagem — pois «toda a interrogação filosófica essencial é necessariamente intemporal. […] A filosofia é essencialmente intemporal pois é uma daquelas coisas raras que nunca poderá encontrar um eco imediato no presente»4).