Romano (1999:56-63) – Causalidade e origem

Data: 2025-10-26 15:00

L’événement et le monde

#### A Explicação Causal de Todo Fato Intramundano

* A suscetibilidade de todo fato intramundano, que se anuncia sob o horizonte do mundo, a uma explicação causal.

* O questionamento não pertinente de uma causa primeira, de uma arkhe, de um princípio, ou de uma fim último da ação humana.

* A ilustração da inesgotabilidade factual da explicação causal a partir do evento singular: a queda da maçã.

* A inesgotabilidade factual da explicação causal pela intervenção de uma multiplicidade de causas cuja infinidade é impossível de abarcar.

#### A Abstração Metódica na Ciência Clássica e a Desmundanização do Fato Intramundano

* A necessidade da ciência clássica de isolar a causa, a única pertinente, da queda dos corpos em geral.

* O significado da abstração como restrição do contexto no qual o evento surgiu.

* O ato da ciência, para as necessidades de sua método, de se entregar a uma desmundanização do fato intramundano.

* A necessidade de não mascarar o processo de desmundanização, que confere universal validade às prestações metódicas da ciência. * O caráter irredutível da fenomenalidade de todo evento considerado em seu contexto intramundano: a inesgotabilidade da trama causal.

#### A Questão da Explicabilidade Causal do Evento em seu Sentido Eventual

* A arqueologia explicativa, mesmo parcial e incompleta, à qual se presta a trama causal de todo fato intramundano, mesmo que seja inesgotável em direito. * A indagação se o evento, em seu sentido eventual, é suscetível de uma explicação causal.

#### O Surgimento An-árquico e a Transcendência do Evento à Causalidade Antecedente

* O evento como puro começo a partir do nada. * O evento que, em seu surgimento an-árquico, se ab-solve de toda causalidade antecedente. * A distinção entre a preparação e a explicação:

* A possibilidade de pesquisar as causas de um encontro (exemplo: ocasião de uma festa, reunião política, universidade, mesma disciplina, etc.).

* A capacidade explicativa de tais “razões” se o evento do encontro se reduzisse à sua efetivação como fato.

* A impossibilidade de qualquer arqueologia causal fornecer a cifra ou esgotar o sentido do evento.

* O que confere ao encontro seu caráter de evento:

* A consideração do encontro como simples fato (e não como evento) para que a pesquisa de causas (“físicas”, “psicológicas”, “sociológicas”) não seja um contrassenso absoluto. * A única coisa que se pode dizer do evento é que ele tem sua causa em si mesmo, ou seja, em todo rigor, que ele não a tem.

* O evento que não tem causa porque ele é sua própria origem: o que constitui seu verdadeiro sentido para a aventura humana.

#### A Originalidade e a Temporalidade do Evento

* A secessão do evento de todo fato anterior por seu próprio surgimento.

* O evento como puro jorro de si em si, imprevisível em sua novidade radical.

* A distinção entre o fato e o evento quanto ao horizonte.

* A capacidade de todo fato e todo ente serem encontráveis no mundo se advêm no aberto de sua mostração.

* A incompreensão da auto-originação e absolvição do evento de toda causalidade antecedente sem uma análise de sua temporalidade.

* A definição de uma causa: um fato, uma coisa ou um estado-de-coisas a partir do qual se efetua um possível pré-existente no horizonte do mundo. * O que constitui a eventualidade de um evento:

* O evento que não cumpre um possível prévio, mas possibiliza o possível.

* O sentido etimológico: eventum (o que advém) apresentando algo irremediavelmente excessivo em relação a todo factum (o “tudo feito”, o cumprido, o acabado).

* O evento que não pertence à efetividade do fato, mas à possibilidade, ou à possibilidade de tornar possível, à possibilização. * O evento distinto do fato que sobrevém no presente cumprido e definitivo.

* As causas do encontro, mesmo sendo determináveis, que não explicam em nada o encontro como evento.

* O evento que se origina a si mesmo, transcendendo sua própria efetuação e possibilizando o possível.

* O sentido de origem (origo, [Ursprung→/definitions?search=Ursprung]):

* O evento que rompe a trama causal:

* O mundo como a totalidade das possibilidades interpretativas a partir das quais os fatos se tornam compreensíveis.

* O evento como aquilo que rompe o horizonte dos possíveis prévios.

#### A Reconfiguração do Mundo e a Totalidade dos Possíveis

* O evento que rompe com a ordem dos fatos e da efetividade.

* A transformação pós-surgimento do evento:

* A indagação sobre a totalidade dos possíveis afetados pelo evento.

* A inexistência, para o adventício, de possíveis destacados.

* O mundo que não é uma soma de possíveis independentes.

* A ilustração pela doença:

* O mundo que o evento desdobra, introduzindo uma deiscência, um hiato, a luz de um rompimento que nunca serão preenchidos. * O mundo que o evento transfigura completamente:

* A condição para elucidar o sentido de tal reconfiguração do mundo: elucidar o que se deve entender por “possibilidade”.

#### Evento e História: A Ruptura da Causalidade e a Constituição Interna do Tempo

* A síntese das afirmações sobre o evento:

* A objeção aparente: se tal síntese não impede de pensar alguma “relação” entre os eventos, um “encadeamento” causal, uma “história”.

* A verdadeira relação: não é a história que é um encadeamento de eventos.

* O conceito de história só pensável se a constituição interna do tempo for primeiramente posta em luz.

* A questão a ser deixada aberta: Qual conceito de “história” está à altura do conceito de evento tal como se tenta determiná-lo aqui? * A crucialidade e urgência do problema da temporalidade do evento no quadro das análises preliminares. * A necessidade de tentar precisar o sentido temporal do evento por contraste com o do fato intramundano.


PS: ROMANO, Claude. L’événement et le monde. Paris: PUF, 1998