* A segunda significação que reveste a meta-categoria de alteridade – a alteridade de outrem – e sua estreita conexão às modalidades de passividade
* A presença da passividade específica do si afetado pelo outro que si em todas as análises
O recruzamento do movimento analógico de mim a outrem com o movimento inverso de outrem a mim
O movimento de outrem para mim incansavelmente esboçado pela obra de E. Levinas
A ruptura na obra de E. Levinas, dirigida contra uma concepção da identidade do Mesmo, à qual é polarmente oposta a alteridade do Outro, a um plano de radicalidade onde a distinção entre idem e ipse não pode ser tomada em conta
A filosofia de E. Levinas se articulando em um plano onde a identidade do Mesmo tem parte ligada com uma ontologia da totalidade, não assumida nem encontrada pela investigação anterior
A identidade do Mesmo significando totalização e separação, o si, não distinguido do eu, não sendo tomado no sentido de designação por si de um sujeito de discurso, de ação, de relato, de engajamento ético
A pretensão que habita o eu, mais radical que a que anima a ambição fichteana, depois husserliana, de constituição universal e de autofundação radical
A pretensão exprimindo uma vontade de fechamento, mais exatamente um estado de separação, que faz com que a alteridade deverá se igualar à exterioridade radical
A crítica à fenomenologia e à intencionalidade de Husserl, que concernem a uma filosofia da representação, que, segundo Levinas, só pode ser idealista e solipsista
A representação assimilando algo a si, incluindo-o em si, e, portanto, negando-lhe a alteridade, não escapando a este reino a transferência analógica
A testificação do outro se dando sob um regime de pensamento não gnoseológico: fundamentalmente o regime da ética
O rosto de outrem se elevando face a mim, acima de mim, não sendo um aparecer que eu possa incluir na cerca de minhas representações minhas
O rosto não sendo um espetáculo, mas “uma voz” que me diz: “Tu não matarás”, com cada rosto sendo um Sinai que interdita o assassinato
O movimento partido do outro acabando sua trajetória em mim, constituindo-me responsável, isto é, capaz de responder
A palavra do outro se colocando na origem da palavra pela qual eu me imputo a mim mesmo a origem de meus atos, inscrevendo a auto-imputação em uma estrutura dialogal assimétrica cuja origem é exterior a mim
O efeito de ruptura atado a esta filosofia da alteridade ab-soluta procedendo de um uso da hipérbole, digno do dúvida hiperbólico cartesiano
A hipérbole aparecendo como a prática sistemática do excesso na argumentação filosófica e como a estratégia apropriada à produção do efeito de ruptura atado à ideia de exterioridade no sentido de alteridade absoluta
A hipérbole atingindo simultaneamente os dois polos do Mesmo e do Outro, pondo Totalidade e Infinito um eu entregue à vontade de fazer círculo consigo mesmo, de se identificar
O eu de antes da fração do eu pelo outro sendo um eu obstinadamente fechado, trancado, separado
O tema da separação, nutrido de fenomenologia do egotismo, marcado pelo selo da hipérbole, se exprimindo na declaração: “na separação o eu ignora Outrem” (Totalidade e Infinito, p. 34)
A hipérbole da epifania do lado do Outro, respondendo à hipérbole da separação, do lado do Mesmo
O aparecer do rosto se subtraindo à visão das formas e mesmo à escuta sensível das vozes, porque o Outro, segundo Totalidade e Infinito, não é um interlocutor qualquer, mas uma figura paradigmática do tipo de um mestre de justiça
A asserção hiperbólica de que a palavra é “sempre ensinante” (ibid., p. 70), e a instrução do rosto não despertando nenhuma reminiscência, à diferença da maiêutica do Menon de Platão
O eu sendo alcançado pela injunção e tornado capaz de responder ao acusativo, em que a iniciativa cabendo integralmente ao Outro, o eu responde ao acusativo ainda: “Eis-me aqui!”
A hipérbole culminando na afirmação de que a instrução pelo rosto não restaura nenhum primado da relação sobre os termos, não atenuando a inteira dissimetria entre o Mesmo e o Outro
Além de ser ou além da essência sobrepujando a hipérbole até lhe dar um tom paroxístico, através de um trabalho preparatório de demolição consumindo as ruínas da “representação”, do “tema”, do “Dito”, para abrir além do “Dizer” a era do “Desdizer”
A designação à responsabilidade adotando o tom da hipérbole, em um registro de excesso ainda não alcançado, enquanto desdizer, subtraindo-se ao linguagem da manifestação
A designação à responsabilidade reportada a um passado mais velho que todo passado rememorável, e a injunção concernindo um aquém de todo começo, de toda arche: o desdito da arche se chamando an-arquia
A hipérbole alcançando o paroxismo na afirmação de que “sob a acusação de todos, a responsabilidade por todos vai até a substituição. O sujeito é refém” (ibid., p. 142) e a “ipseidade, em sua passividade sem arche da identidade, é refém” (ibid., p. 145)
O ponto paroxístico da obra sendo atingido pela expressão da substituição, lançada para prevenir o retorno insidioso da auto-afirmação de alguma “liberdade clandestina e dissimulada”
A hipérbole conduzindo à hipótese extrema de que o Outro não é mais o mestre de justiça, mas o ofensor, o qual não requer menos o gesto que perdoa e que expia
O abismo cavado entre alteridade e identidade só sendo transposto aqui: “É preciso falar aqui de expiação, como reunindo identidade e alteridade” (ibid., p. 151)
A hipérbole da separação, do lado do Mesmo, conduzindo ao impasse a hipérbole da exterioridade, do lado do outro, a menos que se cruze o movimento ético do outro para o si com o movimento gnoseológico do si para o outro
O tema da separação tornando impensável a distinção entre si e eu, e a formação de um conceito de ipseidade definido por sua abertura e sua função desvendadora
A capacidade de acolhimento, de discriminação e de reconhecimento pressuposta ao si, que resulta de uma estrutura reflexiva, melhor definida por seu poder de retomada sobre objetivações prévias que por uma separação inicial
A questão da capacidade de discernimento e de reconhecimento do si, tendo em conta que a alteridade do Outro não se deixa resumir na figura do mestre que ensina, mas deve levar em conta a do ofensor e a do algoz
O questionamento se a voz do Outro que me diz: “Tu não matarás”, não deve ser feita minha, ao ponto de se tornar minha convicção, que iguala o acusativo do: “Eis-me aqui!” com o nominativo do: “Aqui eu me detenho”
A necessidade da linguagem, com seus recursos de comunicação e de reciprocidade, atestada pelo intercâmbio dos pronomes pessoais e pelo intercâmbio mais radical da pergunta e da resposta, para mediatizar a abertura do Mesmo sobre o Outro e a interiorização da voz do Outro no Mesmo
A necessidade de uma dialógica superpor a relação à distância pretensamente absoluta entre o eu separado e o Outro ensinante