Schnell (2004) – Fenômeno e construção (Fink)

Data: 2025-11-03 11:19

La genèse de l’apparaître

Études phénoménologiques sur le statut de l’intentionnalité

Fink também considera que a fenomenalidade não pode ser tratada sem recorrer a um certo fundamento ontológico do fenômeno. No entanto, ele trilha uma via diversa da de Heidegger porque permanece fiel, em certa medida, à acepção husserliana do fenômeno. A fim de apreender sua contribuição para a compreensão do estatuto do fenômeno em geral, cumpre agora explicar o sentido da “construção” que Fink reivindica para uma fenomenologia radical, isto é, para uma fenomenologia da origem. Para isso, pode-se utilizar com proveito as análises heideggerianas da noção de “construção” em Fichte. Em seu Curso do semestre de verão de 1929, ao qual Fink assistiu pessoalmente, Heidegger havia efetivamente desenvolvido sua leitura e sua compreensão do que ele denominou uma “construção” e, naquele momento, esses ensinamentos exerceram influência considerável sobre a concepção finkiana do método fenomenológico. O que Heidegger desenvolve no § 6, b), desse Curso a propósito do “caráter fundamental da construção”? —-

* Eugen Fink compartilha a visão de que a fenomenalidade exige um certo fundamento ontológico do fenômeno, mas adota uma via diferente de Heidegger, mantendo-se fiel à acepção husserliana do fenômeno.

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#### A Noção de “Construção” Segundo Heidegger e Fink

##### O Caráter Fundamental da Construção (Heidegger)

* A construção é o procedimento metodológico que permite desocultar o que está no fundamento do saber.

##### Inteligibilidade Filosófica e Genese (Fink)

* Fink determina a noção de “gênese” ou “construção” a partir da descrição da inteligibilidade própria à filosofia.

* Na *VIª Meditação Cartesiana*, Fink aborda a construção através das dimensões da subjetividade que não se dão imediatamente mas que só podem ser determinadas de maneira construtiva (problema da extensão temporal da subjetividade transcendental).

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#### A Construção Implícita em Husserl e a Consciência do Tempo

* Nas elaborações tardias de Husserl e nas do jovem Fink, encontra-se uma noção de “construção” do saber aparentada à “construção” fichtiana — mas unicamente no plano do que Fichte chama o “fenômeno” (*Erscheinung*).

* A noção de “construção” está implicitamente em ação em Husserl desde os anos 1909-1911, quando ele se interroga sobre os “fenômenos ultimamente constitutivos” da consciência do tempo e o estatuto da “subjetividade absoluta.”

* Uma fenomenologia radical do tempo não pode permanecer no nível imanente dos atos e das componentes de atos, pois deve dar conta da constituição e da temporalidade dos objetos imanentes e dos atos constitutivos.

* Essa descida fenomenológica dá lugar à “descrição” do processo originário, que na realidade reveste uma construção no sentido estabelecido a partir de Fink e Fichte.

* O vínculo constitutivo em Husserl está entre a fenomenalidade e uma “construção” fenomenológica que reivindica a descida aquém da esfera imanente das objetividades constituídas.


PS: SCHNELL, Alexander. La genèse de l’apparaître: études phénoménologiques sur le statut de l’intentionnalité. Beauvais: Association pour la promotion de la phénoménologie, 2004.