====== Dreyfus (OQC): Introdução ====== //Data: 2021-11-01 17:52// ==== O que os computadores (ainda) não podem fazer ==== //{Excelente reflexão sobre as possibilidades concretas da informática, em particular a concretude das promessas da inteligência artificial. Segue um excerto da introdução à primeira edição (MIT), [What Computers Can't Do->http://library.lol/main/F14FA7C0B59466A442726E38E1F7833F].}// Esta [nova] edição de {What Computers Can't Do} marca não apenas uma mudança de editor e uma ligeira mudança de título; também marca uma mudança de status. O livro agora oferece não uma posição controversa em um debate em andamento, mas uma visão de um período passado da história. Pois agora que o século XX está chegando ao fim, está ficando claro que um dos grandes sonhos do século também está terminando. Quase meio século atrás, o pioneiro da computação Alan Turing sugeriu que um computador digital de alta velocidade, programado com regras e fatos, pode exibir um comportamento inteligente. Assim nasceu o campo mais tarde denominado inteligência artificial (IA). Depois de cinquenta anos de esforço, entretanto, agora está claro para todos, exceto alguns obstinados, que essa tentativa de produzir inteligência genérica falhou. Essa falha não significa que esse tipo de IA seja impossível; ninguém foi capaz de apresentar uma prova tão negativa. Em vez disso, descobriu-se que, pelo menos por enquanto, o programa de pesquisa baseado na suposição de que os seres humanos produzem inteligência usando fatos e regras chegou a um beco sem saída, e não há razão para pensar que possa ter sucesso. De fato, o que John Haugeland chamou de Good Old-Fashioned AI (GOFAI) é um caso paradigmático do que os filósofos da ciência chamam de degenerescente programa de pesquisa. Um degenerescente programa de pesquisa, conforme definido por Imre Lakatos, é um empreendimento científico que começa com grande promessa, oferecendo uma nova abordagem que leva a resultados impressionantes em um domínio limitado. Quase inevitavelmente, os pesquisadores vão querer tentar aplicar a abordagem mais amplamente, começando com problemas que são de alguma forma semelhantes ao original. Contanto que tenha sucesso, o programa de pesquisa se expande e atrai seguidores. Se, no entanto, os pesquisadores começarem a encontrar fenômenos inesperados, mas importantes, que consistentemente resistem às novas técnicas, o programa irá estagnar e os pesquisadores irão abandoná-lo assim que uma abordagem alternativa progressiva se tornar disponível. Podemos ver esse mesmo padrão na história da GOFAI. O programa começou de forma auspiciosa com o trabalho de Allen Newell e Herbert Simon na RAND. No final da década de 1950, Newell e Simon provaram que os computadores podiam fazer mais do que calcular. Eles demonstraram que as cadeias de bits de um computador podem representar qualquer coisa, incluindo recursos do mundo real, e que seus programas podem ser usados como regras para relacionar esses recursos. A estrutura de uma expressão no computador, então, poderia representar um estado de coisas no mundo cujas características tivessem a mesma estrutura, e o computador poderia servir como um sistema de símbolos físicos armazenando e manipulando tais representações. Dessa forma, afirmam Newell e Simon, os computadores podem ser usados para simular aspectos importantes da inteligência. Assim nasceu o modelo de processamento de informações da mente.
Todavia não é fácil descobrir uma fórmula pela qual possamos determinar até que onde e até que ponto um homem pode errar até incorrer em reprovação. Mas esta dificuldade de definição é inerente em todo objeto de percepção; tais questões de gradação são limitadas às circunstâncias do caso individual, onde nosso único critério {{{é}}} a percepção.((Aristotle, Nicomachean Ethics, trans. J. A. K. Thomson as The Ethics of Aristotle (New York: Penguin Books, 1953), p. 75.))Para o projeto platônico atingir completude uma ruptura é requerida: todo apelo à intuição e ao julgamento deve ser eliminado. Como Galileu descobriu que se poderia encontrar um puro formalismo para se descrever o movimento físico ignorando-se qualidades secundárias e considerações teleológicas, assim poder-se-ia supor, um Galileu do comportamento humano teria êxito na redução de todas as considerações semânticas (apelo aos significados) a técnicas de manipulação sintática (formal). A crença de que tal formalização do saber deve ser possível logo passou a dominar o pensamento ocidental. Ela já expressava uma demanda básica, moral e intelectual e o sucesso da ciência física pareceu implicar para os filósofos do século dezesseis, como ainda parece sugerir a pensadores como Minsky que a demanda poderia ser satisfeita. Hobbes foi o primeiro a tornar explícita a concepção sintática de pensamento como cálculo: "Quando o homem {raciocina,} nada mais faz senão conceber uma soma total decorrente da adição de parcelas - escreveu - pois a RAZÃO ... nada mais é que cômputo..."((Hobbes, Leviathan (New York: Library of Liberal Arts, 1958), p. 45.)).
Yet it is not easy to find a formula by which we may determine how far and up to what point a man may go wrong before he incurs blame. But this difficulty of definition is inherent in every object of perception; such questions of degree are bound up with the circumstances of the individual case, where our only criterion is the perception.For the Platonic project to reach fulfillment one breakthrough is required: all appeal to intuition and judgment must be eliminated. As Galileo discovered that one could find a pure formalism for describing physical motion by ignoring secondary qualities and teleological considerations, so, one might suppose, a Galileo of human behavior might succeed in reducing all semantic considerations (appeal to meanings) to the techniques of syntactic (formal) manipulation. The belief that such a total formalization of knowledge must be possible soon came to dominate Western thought. It already expressed a basic moral and intellectual demand, and the success of physical science seemed to imply to sixteenth-century philosophers, as it still seems to suggest to thinkers such as Minsky, that the demand could be satisfied. Hobbes was the first to make explicit the syntactic conception of thought as calculation: “When a man reasons, he does nothing else but conceive a sum total from addition of parcels,” he wrote, “for REASON ... is nothing but reckoning. . . .”